segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

“Caro como jóia e raro como justiça”


            Ah, os doces... perdição de muitos!
Os doces existem desde tempos imemoriais, apesar de nem sempre terem sido adoçados com o açúcar. Na Antiguidade Clássica os doces eram preparados com mel de abelhas, o que permaneceu até a dominação do açúcar na culinária. Os doces que, hoje, são preparados com açúcar, outrora eram adoçados com mel de abelhas, principalmente.
O uso do mel no preparo dos doces era tão comum que em Portugal existia a profissão de meleiro, termo que surgiu, segundo o dicionário Houaiss, por volta de 1836. Mas antes mesmo do século XIX os portugueses já cultivavam o mel nas proximidades de suas casas e os meleiros caçavam, tiravam, compravam e vendiam o mel. “as grandes brenhas e dilatados matagais, que principalmente em Trás-os-Montes, Beira Alta e Baixa, havia no tempo dos nossos primeiros reis, deram ocasião a que grande número de homens vivessem de colher mel e matar coelhos pelos montes, chamados por isso de Coelheiros e Meleiros”. Além disso, o mel ainda era meio de pagar os impostos.
                O sal indiano, hoje conhecido como açúcar, tornou-se conhecido no século IV a. C., quando Alexandre, o Grande, empreendeu a conquista da Índia. Nesse lugar as pessoas consumiam um suco de cana fermentado, um mel que não precisava de abelhas para produzi-lo. Com a dominação da Pérsia pelos árabes no século VII d. C., onde havia estudos avançados sobre o açúcar e sua produção, esse produto se espalhou por outras regiões e chegou à Península Ibérica. Por isso o domínio árabe é considerado inseparável do alimento doce.
                A popularização do açúcar se deu durante o século XVI, substituindo o mel. Segundo Câmara Cascudo “A preferência pelo açúcar acentuou-se mesmo nos velhos redutos da antiga doçaria. Primeiro o fidalgo cedeu. Depois as classes mais humildes decidiram-se pelo açúcar”.
Mas mesmo com sua popularização, o açúcar permaneceu “caro como jóia”, embora não fosse mais tão “raro como justiça”. Entre os anos de 1583-1585, os 66 engenhos de Pernambuco produziam 200 mil arrobas de açúcar e, os 36 engenhos da Bahia, 120 mil arrobas.
Com o aumento da produção do açúcar, a produção de doces em Portugal também aumento, sendo produzidos nas casas portuguesas e principalmente nos conventos, onde ganhavam requinte e receitas inovadoras e que delatavam os anseios e apelos das freiras através dos nomes: bolinhos de amor, suspiros, caladinhos, beijo-de-freira, creme-da-abadessa, papo-de-anjo, casadinhos, entre outros, inúmeros!
Nos conventos os doces recebiam o “papel recortado” que eram feitos a mão, antepassado das nossas forminhas produzidas em larga escala. “Com a doçaria existia a não menos encantadora tradição do papel recortado, cobrindo, forrando, ornamentando os doces isolados e a bandeja, que os conduzia. Alguns são maravilhas de finura, equilíbrio e graça delicada, uma renda de intenção decorativa, de efeito surpreendente.”
A tradição de que toda rapariga deveria saber fazer um bolo e belos doces se perdeu com o tempo e na correria do dia a dia, mas a preferência e apetite pelos doces permanceram. Por isso a receita de hoje será um docinho simples e delicioso, para atender ao tempo das atividades que assumimos em nossas vidas. E ela vai com uma indicação para aproximar pais e filhos nessa loucura toda, pois não precisa ir ao fogo.

Docinho de biscoito

Ingredientes
40 unidades de biscoito de chocolate sem recheio
2 colheres (sopa) de margarina
2 colheres (sopa) de cacau em pó
2 colheres (sopa) de doce de leite comum ou de chocolate
Opcional: acrescentar pedaços de avelã ou uma colher (sopa) de licor.

Modo de preparo
1. Triture os biscoitos no liquidificador até que vire uma farinha.
2. Despeje em uma vasilha e misture o cacau, a margarina e o doce de leite.
3. Misture bem até que vire uma massa homogênea e fácil de enrolar, sem que grude muito na mão.
4. Passe um pouco de margarina nas mãos e faça bolinhas.
5. Passe as bolinhas no açúcar refinado e deixe na geladeira por 30 minutos.

Esses doces não são tão sofisticados quanto os preparados nos conventos portugueses, mas são ótimos para fazer e saborear com as crianças! E para encerrar, deixo vocês na companhia de Fernanda Takai e sua dulcíssima voz.

Com açúcar, com afeto, ouse saborear!



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