A tão falada
etiqueta é, por muitos, considerada uma futilidade, uma frescura. Mas nada mais
é que um manual de boas maneiras e, apesar de parecer restrito ao mundo dos ricos,
algumas de suas regras são seguidas até por famílias mais simples. Quem nunca
ouviu a mãe dizendo na hora do almoço, com o cenho franzido, “Menino, tira o
cotovelo da mesa!” ou “Não fale de boca cheia!”. O tal do cotovelo eu não
entendo, mas não é nada agradável ver a comida bailando entre os dentes de uma
pessoa que come de boca aberta! São essas regrinhas que nos fizeram deixar de
sermos bárbaros (não que isso seja uma coisa ruim), para sermos civilizados.
As regras de
etiqueta tiveram sua origem no século XVI, com os manuais de civilidade. Os
manuais de civilidade surgiram no momento de transição da Idade Média para a
Moderna e tratavam das boas maneiras a mesa, condenando a gula, a agitação e a
sujeira. Um exemplo desses manuais é a obra De civilitate morum puerilium (Da
civilidade em crianças), de Erasmo de Roterdã, que tratava do comportamento das
pessoas na sociedade e afirmava que as regras do jogo social deveriam ser ensinadas
as crianças através de métodos mnemônicos.
Nesse período
ainda se comia com as mãos e os talheres eram, usualmente, para servir os
alimentos, por isso os modos à mesa tiveram de ser sistematizados em regras, a
fim de regulamentar a convivência no espaço público e privado. Norbert Elias, na
obra O processo civilizador, explica que “Todos, do rei e a rainha ao camponês
e sua mulher, comem com as mãos. Na classe alta há maneiras mais refinadas de
se fazer isso. Deve-se lavar as mãos antes de uma refeição [...]. Na boa
sociedade, ninguém põe ambas as mãos na travessa. É mais refinado usar apenas
três dedos de uma mão. Este é um dos sinais de distinção que separa a classe
alta da baixa.”
Sobre os
talheres ele explica que “Praticamente não existem garfos e quando os há são
para tirar carne de uma travessa. Facas e colheres são com freqüência usadas em comum. Nem sempre há
talheres especiais para todos: se lhe oferecem alguma coisa líquida, diz
Erasmo, prove-a e, em seguida, devolva a colher depois de tê-la secado. Quando
são trazidos pratos de carne, geralmente cada pessoa corta seu pedaço, pega-o
com a mão e coloca-o nos pratos, se os houver, ou na falta deles sobre uma
grossa fatia de pão.”
Cuillère, fourchette et couteau aux armes de France pour Louis XIV
No entanto
essas regras não se destinavam apenas a gerir os modos à mesa, mas também
permitir a diferenciação de classes através das boas maneiras. O código
destinava-se a todos, porém era possível identificar diferenciações de classe
através dos próprios manuais de civilidade que se multiplicaram a partir do
século XVI. Essa diferenciação se dava até mesmo pelo alimento mais comum entre
todos: o pão, onde havia uma farinha específica destinada ao preparo do pão de
cada classe.
A vida social
e o convívio eram marcados pelos atos de comer e beber. Segundo Os usos da
civilidade, de Jacques revel, “A mesa torna-se então o pretexto de um ritual
complexo e ao mesmo tempo a ocasião de uma demonstração de sociabilidade. Comer
em companhia requer um autocontrole que em primeiro lugar faça esquecer o
corpo, seus apetites indiscretos, suas funções, seus ruídos e humores. Mas isso
não basta: a civilidade da mesa exige ainda uma dupla tecnologia da postura
geral e da consumação. A refeição torna-se uma espécie de balé em que a ordem
dos gestos deve ser regulamentada para todos, enquanto a individualização e a
multiplicação dos utensílios da mesa – prato, copo, guardanapo, faca –
pressupõem a aprendizagem de um manuseio perfeito. Satisfeitas todas essas
condições – que para nós se tornaram evidentes e normais a ponto de as
considerarmos naturais –, a mesa pode prestar-se ao exercício de uma
sociabilidade visível que constitui-se verdadeiro fim.”
Acredito que a
importância da convivência social em torno da mesa não se restringe apenas ao
passado, mas, para algumas pessoas, isso ainda é uma realidade, principalmente
se pensarmos em Belo Horizonte, onde foi mapeado pela revista Veja Belo
Horizonte: Comer e Beber 2011/2012, 243 restaurantes, 210 bares e 193 casas de
comidinhas, ou ainda nos almoços de domingo na casa das avós, sogras e mães,
onde a família se reúne e se entrega aos prazeres de se empanturrar!
Banquete nupcial, Pieter Bruegel (1525-1569)
Essa história de convivência à mesa continuará
em outras postagens, pois há muito que se falar sobre esse assunto. Como muitos
momentos de minha convivência e sociabilidade se dão em torno da mesa do compadre
e da comadre, a receita de hoje foi batizada de Creme do Léo em homenagem àquele
que tanto elogiou e lambeu os beiços ao experimentar essa receita deliciosa!
Creme do Léo com Doritos
50 g de palmito cortado em
rodelas finas
30 g de bacon picado em cubos
pequenos
1 copo de requeijão cremoso
1 colher (sobremesa) de amido de
milho dissolvido em ½ copo de água
1 colher (sopa) de margarina
Pimenta calabresa a gosto
2 pacotes de Doritos Dippas (para que o sabor não atrapalhe a degustação do creme)
Modo de preparo
1) Em uma panela coloque a
manteiga e frite o bacon.
2) Quando bacon estiver frito
acrescente o palmito e refogue um pouco.
3) Acrescente o requeijão e deixe
aquecer um pouco.
4) Acrescente o amido de milho
dissolvido para que engrosse um pouco o creme.
5) Se achar necessário acrescente
um pouco de sal.
6) Acrescente a pimenta e deixe ferver
por 2 minutos.
Observação: Prepare o creme
sempre em fogo baixo para não queimar.
Despeje o Doritos em um
refratário e o creme em um molheira ou rechaud (aparelho para fondue) para
servir.
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